Por PY4ZBZ em 25-03-2001. rev. 14-02-2007
Onda com modulação angular, vista em "câmera lenta".
Definições básicas.
Definições de FM e PM.
Observação importante: é impossível modular uma onda em freqüência (FM) sem provocar variações na sua fase, assim como não é possível modular uma onda em fase (PM) sem causar variações na sua freqüência, porque a freqüência é proporcional a derivada da fase :
f = (1/2p) dF/dt
Por isso, FM e PM são chamadas modulações angulares. Muita gente confunde FM com PM, que apesar de certas semelhanças, são dois tipos de modulação bem diferentes, como mostrarei a seguir.
Consideramos o sinal modulante como sendo uma senóide:
vm(t) = Vm sen (2 p fm t).
(O caso de um sinal modulante complexo será considerado mais adiante).
FM: Uma onda modulada em freqüência (FM) tem freqüência
instantânea linearmente proporcional ao valor instantâneo do
sinal modulante.
Portanto, uma onda FM sofre diretamente desvios de freqüência, e
que são:
O desvio de freqüência de pico df da onda FM é proporcional (pela constante kf ) ao valor de pico Vm (ou amplitude) do sinal modulante:
df = kf Vm.
O desvio de freqüência instantâneo df(t) da onda FM é proporcional (pela constante kf ) ao valor instantâneo vm(t) do sinal modulante:
df(t) = kf vm(t).
Portanto, a onda FM é: vp(t) = Vp sen [ 2 p ( fp + df(t) ) t ]
Ou ainda: vp(t) = Vp sen [2 p fp t - (kf / (2 p fm) ) Vm cos (2 p fm t)] (1)
Uma onda modulada em freqüência, difere de uma onda pura, no fato de que a sua fase sofre uma variação proporcional a integral do sinal modulante.
PM: Uma onda modulada em fase (PM) tem fase instantânea linearmente proporcional ao valor instantâneo do sinal modulante. Portanto, a onda PM sofre diretamente desvios de fase, que são:
O desvio de fase de pico dF de uma onda PM é proporcional (pela constante kp ) ao valor de pico Vm (ou amplitude) do sinal modulante:
dF = kp Vm
O desvio de fase instantâneo dF(t) de uma onda PM é proporcional (pela constante kp ) ao valor instantâneo vm(t) do sinal modulante:
dF(t) = kp vm(t)
Portanto, a onda PM é: vp(t) = Vp sen (2 p fp t + dF(t) )
A freqüência instantânea da onda modulada em fase é proporcional a derivada do sinal modulante:
f(t) = fp + kf fm Vm cos (2 p fm t) (2)
Tanto em FM como em PM, a amplitude Vp da onda modulada é CONSTANTE.
A figura seguinte mostra a relação entre portadora pura, sinal modulante e a onda FM :
É possível demonstrar matematicamente, que uma onda MODULADA em freqüência, FM (que por definição tem freqüência instantânea linearmente proporcional ao valor instantâneo do sinal modulante), sofre também variações de fase proporcionais a integral do sinal modulante. (equação 1 acima) Isso confirma a observação importante do inicio deste texto.
É muito importante distinguir os termos MODULAÇÃO e VARIAÇÃO !
Portanto, uma onda modulada em fase, PM, (que tem por definição fase instantânea linearmente proporcional ao valor instantâneo do sinal modulante) sofre também variações de freqüência proporcionais a derivada do sinal modulante (equação 2 acima), como se vê na figura seguinte (bem diferente da anterior !) :
Banda ocupada.
Teoricamente, uma onda FM ou PM é composta
de uma infinidade de ondas senoidais de freqüências fixas (raias),
simétricas em relação a freqüência da portadora
fp, eqüidistantes, separadas pelo valor de fm, a freqüência
do sinal modulante.
Na pratica, felizmente, as raias acima de uma certa ordem podem ser
desprezadas por serem muito pequenas. Desprezando as raias com menos de
10% de amplitude (em tensão, o que equivale a 1% em potência)
em relação a portadora pura, a banda ocupada em FM ou PM
é dada pela formula de Carson :
B = 2 ( df + fm max ) = 2 ( n + 1 ) fm max
onde dpf é o desvio de freqüência de pico da onda FM, fm max é a máxima freqüência do sinal modulante, e n o índice de modulação.
Um parâmetro importante em FM ou PM é o índice de modulação n, definido a seguir:
n = df / fm = dF.
Porque n define o nível das raias ou sinais senoidais
que compõem a onda FM ou PM.
As funções de Bessel permitem obter o valor de
cada raia em função de índice de modulação
n. A figura seguinte mostra o valor da portadora (raia J0)
e das quatro primeiras raias laterais (J1 a J4) :
As 7 figuras seguintes mostram exatamente as formas de onda e espectros de um sinal FM, para diversos índices de modulação n (nas figuras m). A primeira mostra o sinal modulante com freqüência f:
A segunda mostra a portadora pura, com freqüência 6f (6 vezes a freqüência do sinal modulante):
A terceira mostra um sinal FM com n=0,5:
A quarta mostra um sinal FM com n=1:
A quinta mostra um sinal FM com n=2 :
A sexta mostra um sinal FM com n=2,4 (primeiro Bessel-zero da portadora) :
A sétima mostra um sinal FM com n=3,8 (primeiro Bessel-zero da 1a raia lateral) :
Estas 7 figuras anteriores foram feitas com o programa didático RZ1 (download aqui).
Composição vetorial da onda com modulação angular.
A figura seguinte mostra como o somatório da portadora com as raias laterais resulta em uma onda com amplitude constante R e fase variável. São mostrados 5 instantes diferentes, marcados de 1 a 5 (em verde). No caso, as amplitudes relativas da portadora J0 (0,77) e das raias laterais J1 (0,44), J2 (0,11), J3 (0,02) superiores e inferiores correspondem exatamente a um índice de modulação n=1. Como o índice de modulação equivale ao desvio de fase de pico, observamos um desvio de fase de 1 radiano da onda resultante R, nos instantes 1 e 5, sendo que o instante 3 mostra a resultante R com a fase de referencia, idêntica a da portadora. Como o somatório vetorial é sempre constante e igual a amplitude da onda resultante R , este vetor R tem como lugar geométrico um circulo:
Até agora, usamos como sinal modulante uma simples senóide. O
que acontece quando o sinal modulante for uma onda complexa, como um sinal
de áudio ou vídeo ?
É simples : o sinal modulante complexo é constituído
de uma certa quantidade de ondas senoidais (raias) (Teorema de Fourier).
Para cada uma destas raias do sinal modulante teremos um espectro do sinal
FM ou PM como foi visto acima, com diversas raias laterais. O sinal FM
ou PM resultante é o somatório de todos eles, tornando-se
um sinal com espectro bastante complexo.
Obs: não é possível saber se uma onda é FM ou PM apenas pela sua forma de onda ou pelo seu espectro : é preciso ter como referencia, para a forma de onda, o sinal modulante. Ou ainda, é preciso poder mudar a freqüência do sinal modulante sem variar a sua amplitude e observar o efeito no espectro: se o aspecto do espectro, como quantidade e amplitude relativa das raias, permanecer constante, mudando apenas o espaçamento das raias, trata-se de um onda modulada em fase PM, pois o índice de modulação n permaneceu constante. Em PM, o índice de modulação depende apenas da amplitude do sinal modulante. Em FM, o índice de modulação também é diretamente proporcional a amplitude do sinal modulante, mas além disso ainda é inversamente proporcional a freqüência do sinal modulante.
Conseqüências praticas da diferença entre FM e PM.
Na pratica, uma onda só pode ser modulada diretamente em FM no oscilador onde é gerada, variando-se um dos parâmetros L ou C do circuito oscilante. Em estágios posteriores ao oscilador, não é mais possível modular diretamente em freqüência, mas é perfeitamente possível modular o sinal em fase. Se quisermos uma onda modulada em FM, num estagio apos o oscilador, usamos um modulador de fase, e aplicamos a operação matemática de integração ao sinal modulante, como mostra a figura seguinte:
Inversamente, podemos gerar uma onda modulada em fase (sem usar um modulador de fase) usando um modulador de freqüência, e tendo o cuidado de aplicar a operação de derivação ao sinal modulante, como mostra a figura seguinte:
Estes recursos são muito usados na pratica, principalmente quando queremos uma onda FM, com 6dB por oitava de pré-ênfase. A pré-ênfase com razão de 6 dB por oitava é equivalente matematicamente à derivada do sinal modulante, o que pode ser obtido com um simples circuito RC. Portanto, podemos obter um sinal de FM com 6 dB por oitava de pré-ênfase usando um modulador de fase PM e mais nada ! como mostra a figura seguinte:
O circuito anterior é equivalente ao seguinte (já mostrado anteriormente com menos detalhes):
A derivada do sinal modulante o transforma em um sinal cuja amplitude passa a ser proporcional a sua freqüência, e ainda é defasado 90 graus para frente em relação ao original.
Pois a derivada de sen(a) é a cos(a).
No caso da pré-ênfase, na verdade só interessa o fato da amplitude ser proporcional a freqüência. A utilidade da pré-ênfase só pode ser entendida pelo estudo da demodulação do ondas FM na presença de ruído, o que não é do escopo deste artigo. Um circuito muito usado para pré-ênfase é o circuito derivador RC, que só age como derivador em freqüências abaixo da freqüência de corte fc. Nestas freqüências, o sinal de saída vs também é defasado 90 graus para frente do sinal de entrada ve :
Conclusão interessante sobre FM e
PM : Quando
pretendemos modular uma portadora em freqüência (ou fase), a intenção é
também manter a sua amplitude constante. No entanto, a amplitude
da portadora varia com o índice de modulação e a sua
freqüência permanece fixa em fp. E aparecem novos sinais
senoidais, as raias laterais, que somados (vetorialmente) a nova portadora com amplitude
menor que a portadora pura, resultam em um sinal complexo, modulado em
freqüência (ou fase), e com amplitude constante!
Portanto, não é a portadora que é modulada em
FM ou PM, mas a onda composta ou complexa resultante do somatório
da portadora com as raias laterais.(veja a conclusão semelhante
em AM...)
Sintese FM : O fato de que com apenas duas ondas senoidais (a portadora fp e o sinal modulante fm) é possível gerar uma quantidade enorme de sinais (as raias resultantes da modulação em FM de fp por fm) foi aproveitado na geração sintética de sons complexos, imitando os mais diversos instrumentos musicais ou vozes, chamada Síntese FM, e usada em placas de som para PC e instrumentos musicais eletrônicos.
Bibliografia:
Vejam aqui um excelente artigo da HP sobre AM e FM: o Application Note AN 150-1.